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Sexta-feira, 22 de Julho de 2011

BALADA DA NEVE - AUGUSTO GIL


BALADA DA NEVE



Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
 
 
 
AUGUSTO GIL

(1873-1929)
 
 http://www.eb23-augusto-gil.rcts.pt/augil.html
 

publicado por apólogo às 10:00

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Sábado, 12 de Maio de 2007

No Combóio Descendente, sempre actual

 

 


 

 

 

 No comboio descendente
   Vinha tudo à gargalhada.
      Uns por verem rir os outros
    E outros sem ser por nada
 No comboio descendente
       De Queluz à Cruz Quebrada...

 No comboio descendente
Vinham todos à janela
     Uns calados para os outros
    E outros a dar-lhes trela
 No comboio descendente
        De Cruz Quebrada a Palmela...

 No comboio descendente
   Mas que grande reinação!
         Uns dormindo, outros com sono,
   E outros nem sim nem não
 No comboio descendente
De Palmela a Portimão

                                     Fernando Pessoa

 


 

 


publicado por apólogo às 17:59

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