Contra o Despotismo
SANHUDO, inexorável Despotismo
Monstro que em pranto, em sangue a fúria cevas,
Que em mil quadros horríficos te enlevas,
Obra da Iniquidade e do Ateísmo:
Assanhas o danado Fanatismo,
Por que te escore o trono onde te enlevas;
Por que o sol da Verdade envolva em trevas
E sepulte a Razão num denso abismo.
Da sagrada Virtude o colo pisas,
E aos satélites vis da prepotência
De crimes infernais o plano gizas,
Mas, apesar da bárbara insolência,
Reinas só no ext'rior, não tiranizas
Do livre coração a independência.
Liberdade
LIBERDADE, onde estás ? Quem te demora ?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia ?
Porque (triste de mim !) porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora ?
Da santa redenção é vinda a hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh ! Venha... Oh! Venha, e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora !
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade.
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, oh Liberdade!
Bocage